segunda-feira, 2 de março de 2009

Ética do Discurso

O capítulo III do livro “Consciência Moral e Agir Comunicativo”, traz à discussão a ética do discurso num processo argumentativo. A moral e ética seguem caminhos distintos, embora ambas seguem a razão prática. Contribuindo para explicar sobre as questões práticas do tipo “O que vamos fazer?”, Habermas, abandona o ponto de vista da racionalidade meio-fim. A objetividade perde espaço para intersubjetividade e o homem passa discursivamente a interagir com o meio. A argumentação é base da ética do discurso. A justificação das normas não pode ser realizada individualmente, ou seja, a validez das normas são dialogicamente realizadas entre os participantes que almejam o interesse simétrico dos juízos morais. Assim o “fato moral” depende do consentimento de todos os participantes em debate, que é através da linguagem que os participantes interagem entre si, expondo seus pontos de vista. Partindo da individualização para a socialização que Habermas insere um novo conceito para razão, definindo-a como razão comunicativa, razão dialógica enraizada no mundo vivido, que se manifesta na capacidade de justificação de normas cujas pretensões de validade são levantadas em atos de fala. Ele chama de comunicativas as interações nas quais as pessoas envolvidas se põem de acordo para ordenar seus planos de ação, a acordo alcançado em cada caso medindo-se pelo reconhecimento intersubjetivo das prevenções de validez. No caso dos processos de entendimento mútuo lingüísticos, os atores erguem em seus atos de fala, ao se entenderem uns com os outros sobre algo, pretensões de validez, mais precisamente, pretensões de verdade, pretensões de correção, pretensões de sinceridade, se refire a algo do mundo objetivo (enquanto totalidade dos estados de coisas existentes), a algo no mundo social comum (enquanto totalidade das relações interpessoais legitimamente reguladas de um grupo social) ou a algo no mundo subjetivo próprio (enquanto totalidade das vivências a que tem acesso privilegiado. Quando no discurso prático o interesse é igual para todos os concernidos institui-se o princípio da universalização na qual os problemas devem ser resolvidos através das argumentações morais, não podendo ser construídos monologicamente. É coletivamente, através do esforço de colaboração, que chegamos a um acordo, um entendimento, chamado por Habermas de entendimento mútuo intersubjetivo. Quando nos colocamos a discutir moralmente as pretensões de validez não significam que sejam verdadeiros, o que estamos buscando um acordo, seja ele verdadeiro ou não. Nessa busca pelo acordo, entendimento, no processo argumentativo o céptico deve obrigatoriamente tomar uma posição positiva ou negativa não perdendo sua existência, seus princípios éticos. Habermas acredita que não existe na vida cotidiana um agir que não seja comunicativo, orientados por pretensões de validez assertóricas e normativas, e que sempre por menor que seja essa argumentação, ela é institucionalizada. As estruturas simbólicas de todo o mundo da vida reproduzem-se sob as formas de tradição cultural, da interação social e da socialização, e esses processos só podem efetuar-se por meio do agir orientado para o entendimento mútuo. O agir orientado para fins é substituído pelo agir orientado para o entendimento mútuo. A agir estratégico não é abolido pelo autor, simplesmente é antecedido do agir comunicativo, ou seja, a ação a ser realizada é escolhida discursivamente, ganhando aí o melhor argumento. Dessa forma, a esfera ética e moral não devem ser pensadas separadamente, ambas se completam quando ocorre interação, assim Habermas propõem repensar a ética e a moral no ponto de vista da intersubjetividade. Na qual não se pode discorrer da individualização sem pensar em socialização, uma completa a outra. O indivíduo não se forma individualmente, mais é no contato com o outro que percebe sua individualização, e essa é a base da intersubjetividade - no reconhecimento recíproco do outro como um fim em si ao mesmo tempo em que é parte integrante da espécie. A construção da autonomia do indivíduo, sua autocompreensão enquanto um ser de vontade livre deve passar não apenas por uma teoria moral, mas por uma ética e também por um projeto de formação.
Podemos dizer que o domínio da subjetividade ocasionou para a problematização das coisas do mundo vivido, liberado das rotinas da percepção quotidiana e das convenções do agor cotidiano. Vendo a relação entre a moralidade e a eticidade como parte de um contexto mais complexo.

FONTE: NOTAS PROGRAMÁTICAS PARA A FUNDAMENTAÇÃO DE UMA ÉTICA DO DISCURSO.HABERMAS, Jurgen. Consciência Moral e Agir Comunicativo;tradução de Guido A. de Almeida – Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 1989.pag. 61 – 142